plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

Universidade é universo
Juliana Petermann 
Professora universitária

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De dentro da universidade fico vendo a universidade sendo xingada por quem está do lado de fora. "Bando de esquerdistas''. Lugar de "plantações extensivas de maconha". "Lugar de ideologias". Daqui de dentro, fico vendo a universidade sendo maltratada: nos últimos anos, as universidades públicas sofreram cortes orçamentários que podem inviabilizá-las.

Mas a quem interessa desqualificar as universidades? Quando eu faço essa pergunta eu não quero dizer que não temos problemas. Eu sei que as universidades têm muita coisa para melhorar. Mas quero falar a partir dos dias que tenho vivido na universidade.

MÚLTIPLO

São aproximadamente 7.300 dias em que estive na UFSM. Nesses milhares de dias, fui estudante de graduação, estudante de pós-graduação no mestrado, professora substituta e, há treze anos, sou professora efetiva. Modestamente posso dizer que conheço essa instituição. Entre meus professores e professoras na graduação estavam pessoas mais à direita, mais à esquerda, pessoas de centro e pessoas que nem sequer permitiam que suas concepções políticas fossem presumidas. Entre elas, por exemplo, a minha professora preferida. Suas aulas eram técnica purinha. Agora, na minha experiência enquanto docente, entre colegas, percebo a mesma multiplicidade. Em cada um desses dias que tenho vivido na UFSM, não vejo uma universidade nem de esquerda, nem de direita. Vejo um espaço plural de pensamento.

UM UNIVERSO

Mas ainda assim interessa a alguém construir a ideia de que a universidade é um "antro de esquerdistas". A universidade é lugar de ciência, de construção de pensamento complexo e crítico. É um lugar das tecnologias, mas também das humanidades. Sua função e sua beleza estão centradas justamente nas diferenças que convivem aqui. Rotular a universidade é atacar a sua essência: de ser muito, de ser muitas coisas ao mesmo tempo. 

Dê um Google. Rapidamente você chegará aos mesmos nomes: as vozes que hoje defendem tratamentos precoce contra a Covid-19, comprovadamente ineficazes, são as mesmas que se levantam contra as universidades. São vozes amarradas a negacionismos e a pensamentos anticiência. 

Antes que tentem rotular disso ou daquilo e maltratar a lindeza da complexidade da universidade, eu digo, a partir do que vejo cotidianamente, a universidade nem é esquerda, nem direita. É um universo. É por isso que alguns se incomodam. É justamente aí que está sua beleza.

É hepta!
Eni Celidonio
Professora universitária

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Gente! O Celso setentou! Ah... O que vocês têm a ver com isso? Nada, mas a crônica é minha e eu escrevo o que eu quiser!

Vejam bem: a criatura fez setenta anos. Eu comecei a namorar esse ser quando ele tinha 20. Sabem o que isso significa? Que ano que vem vai fazer meio século que a gente se atura!!! (Sim, vão aparecer várias exclamações, porque o assunto exige).

Conheci o Celso na Grêmio Recreativo Rui Barbosa, na verdade, não era esse o nome: era Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, mas como era na década de setenta, o Caco era um lugar nefasto, na medida em que foi um dos mais ferrenhos opositores ao regime militar que vigorava, portanto, o nosso espaço teve que trocar de nome: Rui Barbosa era mais adequado, e nada de Centro Acadêmico, tinha que ser Grêmio, embora pareça mais uma escola de samba carioca. A gente ficava lá, no meio de mesas de sinuca, violões, futuros juristas, diplomatas, escritores, jornalistas, políticos, cantores, atores, juízes, desembargadores e advogados, é claro, era uma festa. E ainda tinha um carrinho dos lanches da Genial, que vendia um dos melhores sanduíches que já comi na vida.

Os dois grandes momentos eram: ficar na janela observando os réus chegando para as audiências das Auditorias Militares do Exército, que ficavam bem na nossa frente: uma fila de soldados portando armas e os réus entrando. Na sua grande maioria, rapazes de cabeça erguida, sem essa nóia de esconder o rosto ou de baixar a cabeça. Não. Eles entravam altivos, e nós vibrávamos com isso. O segundo grande momento, esse para as meninas, era o intervalo da Rádio Ministério da Educação e Cultura, ao lado do prédio da Faculdade. As meninas iam todas para o bar da esquina e ficavam esperando o momento em que Sérgio Chapelin entrava para lanchar.

Gente, vocês não têm ideia do que era estudar num prédio todo cor-de-rosa, como todos os prédios da UFRJ que não ficavam no campus da Ilha do Fundão! Eu até acredito que eu sou chegadinha numa velharia: saí do Colégio Pedro II, com suas salas de aula com carteiras de madeira com espaço para a tinta da caneta tinteiro (que inclusive eu usei muito), para o prédio da Faculdade Nacional de Direito, na Moncorvo Filho 8, um prédio histórico, do século 19, que sediou o Senado Federal até 1924. Assim como o Pedro II, os degraus eram de mármore, desgastados por tanta gente que já subiu, desceu e fez história naquelas escadarias. E o elevador? Sim! Tinha um elevador que nos levava até o terceiro andar, que para sair do lugar tínhamos que fechar a grade. Era uma delícia! Ops... O assunto não era esse, mas vamos lá: Celso fez setenta e comemorou da maneira que mais gosta, ao lado dos filhos. Esse foi o diploma que apresentei a minha família no Curso de Direito. Se notei muita diferença em quase 50 anos? Claro, mas como eu também envelheci junto, não tem muito o que reparar, só agradecer o baita cara que divide essa vida maluca comigo.

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